Homeless

Hoje a partir das 22 horas sou oficialmente um sem abrigo.
Com a minha vida arrumada em meia duzia de caixotes, invadiu-me um sentimento de nostalgia sem ainda ter terminado esta fase da minha vida. Recordando momentos vividos, em cada espaço. Uns agrádaveis, outros nem tanto. As discussões no quarto, os momentos apaixonados, longas conversas na cozinha, gargalhadas na sala, noitadas a estudar na minha secretária desarrumada, o barulho das ambulâncias que constantemente passam na rua da frente, o barulho dos acidentes de automovel em todos os dias que chovia (era uma constante), a minha revolta pelo facto da senhoria teimar em entrar em casa sem bater, aqueles dias de pasmaceira à frente da televisão a ver sic radical ou sic comédia, o dia em que resolvi arrumar a casa de uma ponta à outra ( ainda tenho pesadelos à noite ), as jantaradas com amigos, os "encontros" casuais...

Sinto-me cansado.

Cansado de não sentir que um lugar é realmente meu. Já nem o regresso a casa dos meus pais após vários meses de ausência me traz esse sentimento de volta. Parece que estou numa residencial com os meus objectos de infância expostos. Depois regresso novamente à rotina da minha vida quotidiana. Com uma casa que não é realmente minha e com a incerteza se lá ficarei no ano seguinte.
A história repete-se e voltará a se repetir.

Agora sem destino e com apenas a certeza que tenho que sair até ao final deste dia. Só me resta esperar encontrar um espaço que me faça viver metade do que vivi neste. Uma nova vida. Espero que pelo menos esta casa nova traga um microondas consigo.